sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Concertos, Zurique e fim da primeira semana de aulas

Quarta-feira fui para uma aula que começava bem cedo, às 8 da manhã. A matéria era relacionada com políticas públicas e impostos, o que a tornava bem interessante, porém, após assistir a primeira metade da aula, soube que não era aquilo que queria. Primeiro, porque o professor falava um inglês quase incompreensível, depois, que a abordagem dele não era nem um pouco agradável nem fácil. Ele ia passando os slides com equações gigantes, com muitas derivadas e integrais e falando: “isso é bem fácil e vocês devem estudar sozinhos em casa”. Assim, desisti dessa matéria antes de acabar a primeira aula (ainda bem que tenho essa opção aqui, podendo escolher as matérias que vou cursar no semestre, nas duas primeiras semanas, experimentando-as). Como a matéria que eu quero fazer a tarde começa somente daqui a duas semanas, tinha o resto do dia livre. Livre, no sentido que não tinha nenhuma obrigação para cumprir, porque, na verdade, ele já estava muito bem planejado. Já havia descoberto na internet que haveria um concerto bem interessante em Zurique e que eles tinham preços especiais para estudantes. Assim, não custava nada tentar ir pra lá, já que, no mínimo, conheceria uma nova cidade. Assim, peguei o trem em St. Gallen aproximadamente às 11 da manhã. Acho que eu gosto muito de viajar de trem e as viagens de trem são bem produtivas pra mim, porque sempre consigo descansar e relaxar nelas, vendo as belas paisagens brancas e também consigo ler muito. Na ida, consegui ler metade do Adam Smith que tenho que ler para a próxima aula e ainda terminar o trecho do Alberto Caeiro que estava lendo há algum tempo (na verdade, acho que os poemas de Alberto Caeiro combinam perfeitamente com as paisagens suíças, na medida em que ele fala do contato com a natureza como a explicação para tudo o que não tem explicação, e é o que se percebe, quando se observa belas paisagens naturais). Na volta consegui ler bastante do livro que comprei em Zurique, numa livraria somente de livros em inglês, que foi “O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu”, do Oliver Sacks, um neurocientista.
Voltando à chegada em Zurique, cheguei por volta de meio-dia e quinze, com bastante fome. A minha sorte é que estava tendo uma feirinha na estação de trem que era bastante boa, com muitas comidas. Acabei comendo uma salsicha e tomando um suco de maçã (a salsicha não é novidade, como sempre porque é a coisa mais barata e que alimenta bem. Já sobre suco de maçã, esqueço sempre que aqui na Suíça, eles sempre acabam te dando um “Apfelschörle” ao invés de “um Apfelsaft”, o que significa que eles te dão um suco de maçã com gás, que eu não gosto muito). Depois saí para andar pela cidade, indo em direção ao lago que fica bem perto da sala de concerto, o Tonhalle (que numa tradução livre significa o pavilhão dos sons). A cidade é bastante bonita, com bastantes prédios velhos, mas também prédios modernos, com muitas lojas de grife, além de vários braços da lagoa que entrar por entre os prédios, fazendo com que haja muitas pontes. Estava bem frio e depois de me perder um pouco, cheguei na sala de concertos e comprei meu ingresso de estudante, por 20 francos. Depois, tinha que continuar passeando na cidade até a hora que o concerto começaria. Assim, fui conhecer a cidade do jeito que acho que é o melhor, que é ir se perdendo por ela. Não se perder a ponto de não se saber onde se está, mas ir andando sem rumo (assim, conheci Berlim e estou conhecendo St. Gallen). Fui para em muitos lugares interessantes, como uma loja de música de 5 andares e a livraria de livros em inglês, onde passei boa parte do meu tempo. Fui também para uma loja de departamentos, onde fui para a seção de alimentos, é claro, e fiquei degustando, com os olhos as ótimas comidas que ficam lá. (se são boas não sei, mas parecem).
Sei que quando faltava um pouco mais de uma hora para o concerto começar fui para o Tonhalle, onde foi surpreendido por uma surpresa preparada pela orquestra, que foi uma pequena apresentação de um quarteto (piano, violino, viola e cello) tocando algumas peças de um compositor que iria ser apresentado no concerto principal, que era o americano do começo do século passado Charles Ives. O Tonhalle é uma sala bem velha, sendo que foi inaugurada por Brahms, mas bastante bonita. O concerto foi bom, iniciado com “Three Places in New England”, do compositor americano já citado, seguida da terceira sinfonia de Mendelsohn (já me enjoei um pouco de Mendelsohn aqui, que tem sido muito tocado decorrente do seu aniversário de 200 anos). O programa foi finalizado com o segundo concerto de Brahms, tocado por um pianista bastante famoso, chamado Yefim Bronfman (para quem assistiu o filme da Disney, Fantasia 2000, ele é quem toca o segundo concerto de Shostakovich, que é a trilha da história do soldadinho de chumbo). No final do concerto, tanto o pianista, quanto o maestro, David Zinman, iriam autografar um Cd que haviam gravado juntos e, como não havia fila, pedi para autografarem o programa do concerto, já que não queria muito comprar o Cd. Depois, voltei caminhando para a estação e peguei o trem de volta para St. Gallen, sem pagar nada, chegando bem tarde, por volta de meia-noite.
Esse programa todo tinha sido programado com o prévio conhecimento de que não teria aula na manhã seguinte e assim, poderia descansar. E foi o que fiz, indo para a faculdade só para almoçar por volta de uma da tarde. As duas tinha aula de alemão, que não foi muito interessante pois foi bastante básica (entrei no nível “pre-intermediate”, que acho que vou continuar para ganhar fluência, mas vou também fazer o nível “intermediate” que é um pouco difícil, mas acho que consigo acompanhar). Logo em seguida fui tentar uma aula diferente, o título da matéria era: “Imagining America II: South”. Lendo a descrição sabia que era sobre o sul dos Estados Unidos, mas assistindo a aula, descobri ser algo como o sul dos Estados Unidos foi interpretado na literatura no passar do tempo. Não tem muita relação com os cursos que estudo na faculdade, mas como estou com tempo aqui, até que é interessante fazer um curso de literatura e, por isso, vou continuar nessa matéria.
Saindo da faculdade, já sabia o meu destino, que era ir para mais um concerto, dessa vez da orquestra de St. Gallen. Assim, fui direto para a sala de concerto, também chamada Tonhalle (estranho, não?), e comprei meu ingresso de estudante por 10 francos. Como faltava mais de uma hora para o concerto começar, fui dar uma volta na cidade em busca de um supermercado para comprar algo para comer. Porém, comecei a reparar em várias pessoas com roupas e maquiagens estranhas. Só depois de algum tempo, quando vi algumas bandas tocando, todas fantasiadas pela cidade, pecebi que era uma comemoração de carnaval. Depois que saí do concerto fiquei algum tempo andando pela cidade e vendo como era essa festa. Tinha muitas pessoas nas ruas, inclusive muitas crianças que faziam bastante bagunça, porém, tudo bem organizado. É bem diferente do carnaval do Brasil, até na motivação, já que pelo que entendi, eles comemoram o Carnaval para espantar o frio. Voltando ao concerto, foi baseado em compositores ingleses. Foram apresentadas: a “Simple Symphony”, de Benjamim Britten, “A walk to the Paradise Garden”, de Frederick Delius, as Variações Enigma de Edward Elgar (que já assisti muitas vezes e gosto bastante), além do concerto para tuba de Vaughn Williams. Nunca havia visto um concerto para tuba e até que foi divertido, ainda mais pelo bis do tubista (da própria orquestra Karl Schimke) que foi um arranjo bem legal de Balckbird dos Beatles. A orquestra é boa, mas não tão boa como a de Zurique que é uma das melhores do mundo. Ela fez uma peça “complexa” (o Elgar) e outras três mais “simples”, todas bem tocadas. A sala de concertos é bem pequena e simples nos detalhes mas tem uma acústica boa.
Hoje, sexta-feira, fui para a faculdade de manhã assistir a aula de “International Relations Theory” que parecia, pela descrição ser bastante interessante, como foi a aula. O problema é que quando fui buscar os textos de leitura do semestre descobri que vou ter bastante trabalho nessa matéria, já que o bloco de textos custou 31 francos, o que significa muito texto. Mas, sem problemas, já que acho que ando tendo tempo demais... Depois fui no supermercado comprar algo para o almoço e voltei para o apartamento onde cozinhei batata rosti e salsichas. Até que deu certo e a comida ficou boa, mas depois tive que lavar toda a louça e a pia que ficaram bem sujas com minha bagunça. Depois do almoço, descansei um pouco e depois saí para caminhar na cidade, já escurecendo, em busca de outra comemoração de carnaval, para eu, dessa vez, fotografar. Porém, não havia nada, mas só muita neve, o que fez com que acabasse voltando para o apartamento.

2 comentários:

  1. puxa amor, muito divertido ler sobre oq ue vc fez aí!! ^^
    Deve ter sido divertido ver o carnaval! Aqui não tem esse tipo de festa... pelo menos não no inverno.
    Também queria ver vc cozinhando! Da próxima vez que a gente se encontrar, vc tem que cozinhar para mim!! xDDD

    Beijos!!^^

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  2. Du,
    Há um bom tempo, fui fazer um curso de túneis na Poli e o professor, na primeira aula, começou a teoria com nabla ao quadrado, integrais triplas e equações diferenciais. Também como vc desisti e num simpósium, um engenheiro acho que da Camargo Correa, disse: prof. a sua solução é precisa e muito boa. O duro é encontrar um problema e dados de entrada para essa solução...
    Como a Carol, quero ver vc cozinhar. Se ficar bom é que puxou o pai hahaha.
    O Pit pediu um espaguete com frutos do mar e hoje vou fazer.
    Na quarta feira de cinzas começo minha quaresma e esse ano vou seguir até o fim (pelo menos espero).
    Bom carnaval.

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