Escrevi isso ontem enquanto eu estava ainda lá. Agora já estou de volta a St. Petersburg e vou me acertar por aqui. A viagem de volta, apesar de longa, voi bem melhor, porque uma menina que falava inglês me ajudou na viagem. Acho que vou ter trabalho a partir de hoje e depois conto melhor.
A volta do acampamento para a cidade ocorreu sem problemas. Todos, incluindo as crianças, entraram num ônibus, que percorreu uma estrada cheia de neve e toda esburacada e em mais ou menos uma hora chegou à cidade. No caminho sentei do lado de um menino muito esperto, que se declara comunista e foi bem engraçado conversar com ele. Fomos para um lugar, que eu não sei muito bem o que é, mas parece ser um tipo de escritório do acampamento e de outras atividades relacionadas. Isso era por volta das 4 da tarde. Despedimo-nos daqueles que voltavam para suas casas, mas havia alguns que voltariam para Moscou no trem das 11 da noite e por isso ficamos com eles por mais algum tempo. O que mais me chamou atenção nesse escritório eram algumas fotos que estavam situadas numa parede. Estavam dispostas como um pódio. No terceiro lugar havia alguém que eu não conheço, no segundo, o presidente russo e em primeiro Adam Smith. Estranho, ao menos inesperado, colocarem o Smith na frente do presidente russo, aqui na Rússia.
Depois de nos esquentarmos um pouco com chás, numas canecas que tivemos que lavar com muito esforço, porque pareciam que tinham sido deixadas sujas por alguns anos, saímos para comer num restaurante chinês. O pessoal daqui queria levar a Hao para traduzir algumas coisas no cardápio, porque parece que eles sempre iam nesse restaurante e nunca sabiam bem o que pediam. Ela não estava mais me evitando, mas continuava irritante, me repreendendo por tudo o que eu fazia e só falando comigo com ironia. Eu não estava me importando, mas estava evitando ela pra evitar problemas. A comida não estava muito boa, mas deu pra comer um tipo de gohan, que valeu por tudo. Depois demos uma volta pelo centro da cidade, que é bem bonito. Os meninos, que falavam inglês muito bem, nos contaram tudo sobre lá e várias coisas sobre a história da Rússia. Na praça central havia alguns blocos de gelo, onde haveria uma competição de esculturas, mas que nem acabei indo ver depois. Antigamente esse centro era composto por casa de madeira, mas teve um incêndio que destruiu boa parte da cidade, que foi reconstruída na forma de um leque. Depois desse breve passeio, porque estava muito frio, voltamos para o escritório.
Ficamos tomando chá por mais algum tempo e conversando, principalmente com os garotos. Eles ficavam me fazendo diversas perguntas sobre vários assuntos, um deles que me levou a briga final com a menina. Ela estava, como já disse, extremamente desrespeitosa comigo e eu vivia falando que não havia graça nenhuma no que ela estava fazendo, mas isso só a animava a continuar. Foi tipo o Pit irritando o Lucas numa versão piorada. Eu tinha lavado minha xícara, feito meu chá e ela simplesmente pegou ele e falou pra eu fazer outro para mim. Por enquanto tudo bem. Mas um dos meninos começou a perguntar sobre animais de estimação e ela respondeu que já teve vários e começou a falar que na China os cachorros tem que ter registro e os meninos russos e eu dissemos que nossos países isso não era necessário. Eu não podia perder a piada e fiz valer o ditado de que “perde-se o amigo mas não a piada”. Não fiz por mal, porque achei que o jeito com ela estava agindo comigo era cordial o suficiente para aceitar algumas brincadeiras. Me enganei e o ditado valeu. Disse que na China, os cachorros precisavam de registro se não alguém poderia comer eles. Ela ficou muito, mas muito brava com isso, falando que eu estava ofendendo os chineses e que não era verdade que todos eles comiam cachorros, mas somente em alguns lugares. Eu respondi que não havia dito que todos os chineses comiam cachorros, mas que somente alguns e ela ficou mais brava ainda e ficou me respondendo coisas que eu não entendi muito bem. Aposto que agora ela vai falar pra todo mundo que os brasileiros odeiam os chineses, assim como ela fala o mesmo dos ingleses. Tentei me desculpar com ela depois, mas ela só respondeu que me odeia e ficou por isso, mesmo que tivemos que conviver por mais um dia inteiro. Que saudade da Júlia! Pelo menos nossas discussões, mesmo que não terminassem com alguma decisão ou concordância, não terminavam desse jeito infantil e mimado.
Depois disso fomos para uma sala maior no mesmo prédio, onde tinha um projetor e assistimos a um filme. Era o filme ocidental do Wong Kar Wai, que em inglês se chama My Blueberry Nights. Apesar de a história ser fraca, o filme é muito bonito, com várias cenas com uma bela fotografia e música, cantadas pela Norah Jones, que também é a protagonista no filme. Isso já era por volta das 8 da noite e estavam todos bem cansados. Assim, fomos para a casa do Sasha, onde fiquei hospedado e onde a mãe dele nos esperava com uma comida deliciosa. Tinha batatas, como sempre, além de uma carne que estava muito boa. Conversei bastante com a mãe do Sasha, com o uso dele ou da Katya como tradutores. Ela estudou na academia de culinária de Moscou e continua dando aulas de culinária, pelo que entendi para o ensino médio. Além disso ela é bastante simpática e convidou eu e a Hao para ajudarmos na cozinha no dia seguinte. É claro que aceitei de primeira! Fizemos uns pãezinhos com recheio de repolho, uma torta de berries que eu não sei o nome e também uma pizza, tudo usando uma massa que a mãe do Sasha tinha preparado. Isso tudo foi feito logo depois do almoço, mais ou menos na hora em acordamos, porque estávamos exaustos do acampamento. Depois do trabalho na cozinha saímos para conhecer mais alguns lugares da cidade. Fomos até uma abadia/castelo, que fica nas margens do rio Kostroma, que na curva seguinte se junta com o Volga, acho que o maior rio russo. Era bem legal, com um museu com várias coisas das igrejas da região desde o século XV. Dali, fomos para uma rua onde eles preservam umas casas do século 19, além de uma igreja, todas construções de madeira e muito bonitas. Tinha também algumas esculturas de alguns personagens lendários russos, que aproveitamos para saber as histórias. Tem um dragão de três cabeças que é sempre o vilão. Tem um bicho que parece o Mephistopholes que também é vilão. Tem a Baba Yaga, que é uma bruxa que às vezes é do bem e às vezes do mal. Tem sua casa, que tem pés de galinha e anda. Tem o Ivan, que é o herói, mas também meio inocente e sempre salva as princesas com alguma manobra esperta.
De lá, fomos para um tipo de um shopping que fica perto da casa do Sasha, onde fomos jogar joguinhos eletrônicos. A intenção era jogar air-hoquei, aquele jogo com um disquinho em que flutua numa mesa e que temos fazer gols no adversário. O pior é que eu ganhei todas as partidas... Dali, voltamos para a casa dele, para comermos novamente. Dessa vez comi o peixe que o pai dele tinha pescado no dia anterior, que estava muito bom, acompanhado de um trigo que eles comem aqui, que também é bem gostoso, mas que os brasileiros não gostaram quando comi com eles. Comemos também a pizza, que é bem estranha, com muitos ingredientes misturados e também a torta de berries que estava deliciosa. Ganhei de presente da mãe do Sasha um apitinho em formato de animal que o irmão dele fez. O irmão dele é ceramista e faz umas coisas muito bonitas, que enfeitam a casa dele. Depois de comer, fomos até a casa de dois amigos do Sasha, que também estavam no acampamento, pois fica bem próximo a estação, onde a Hao embarcaria para Moscou. Ali, brindamos com uma bebida sérvia que eu não lembro o nome e também com vodka russa, além de assistirmos o último episódio de Big Bang Theory. Pude usar a internet, finalmente, e publicar os relatos anteriores. Depois deixamos a Hao na estação e voltamos para casa, onde no caminho fizemos um boneco de neve, que para mim era gigante, mas para eles não. Depois coloco as fotos dele. Exautos e todo molhados da neve que caia e que estava no chão voltamos para casa e dormimos bem novamente. Eu dormi num colchão de ar e com bastantes cobertores, mas a mãe do Sasha estava sempre preocupada com o frio, que eu não senti em nenhum momento. Fui muito bem recebido aqui e vou sentir falta, se eu voltar para São Petersburgo e continuar naquele bagunçado hostel...
Dudu,
ResponderExcluirTenho acompanhado cada passo da tua aventura na terra do Puskin. E um relato maravilhoso, cheio de informacao, cultura e bom-senso ... quero dizer "breathtaking"!. Realmente esta de parabens! Que bom que vc se safou desta praga chinesa, a Mlle Hao ... como dizemos nestas bandas "Good riddance!!"
Acho que esta merecendo algum premio pelo que ja enfrentou e venceu. Talvez ao voltar, o teu pai pode comissionar o erguemento de uma estatua la em Lins na rua que carrega o nome do teu avo, Geraldo! Para vc um enorme abraco, agasalhe-se bem e "bola pra frente"! Jake
Dudu,
ResponderExcluirGosto quando vc descreve as contrucoes, o tipo de arquitetura, a epoca .... Ateh parece que estou vendo.
Parabens pela sua descricao. Continue, ta?
Ontem sai com o Gui e falamos de vc. Senti sua falta no jantar.
To com uma saudaaaddddeeee.....
Bj Tia Lena
du,
ResponderExcluirpor favor fala com a carol sobre o cozy bar, shi...(entendeu?)
boa sorte.
pit